Como a pandemia pode ter afetado a saúde visual

Entre a comunidade oftalmológica, brincava-se que 2020 seria o ano da saúde visual, fazendo um jogo com 20/20, o ideal da visão. Mas, paradoxalmente pode ser que nesses meses a visão tenha sido nosso sentido mais afetado, devido ao aumento no tempo de tela que foi visto nas quarentenas. Os mais novos trocaram aulas presenciais por essas por meio de um aparelho eletrônico, enquanto nós que já trabalhamos com computador tivemos que depender das telas, mesmo para nossas reuniões ou para nos comunicarmos com nossos entes queridos.

De acordo com os números da OMS, atualmente um terço da população mundial é míope e esse número só vai continuar a aumentar.Segundo o Dr. Dennis Cortés, presidente da Sociedade Chilena de Oftalmologia (Sochiof), há preocupação com o grande aumento dessa condição nos últimos tempos. “O maior tempo de tela e a diminuição das atividades ao ar livre são fatores relevantes no aumento da miopia”, afirma o especialista. “Por isso é muito importante seguir a regra 20/20/2, o que significa que a cada 20 minutos descansamos por 20 segundos, molhando a seis ou mais metros de distância e nos expomos à luz natural por duas horas por dia com proteção de óculos de sol certificado ”.

Cortés alerta que o uso excessivo da tela pode causar fadiga ocular nas pessoas, independentemente da idade, devido a dois fatores. A primeira é a contratura do músculo ciliar, que é o que modifica a forma da lente natural de nossos olhos chamada cristalina e nos permite focar a uma curta distância. “Trabalhar muitas horas contínuas em frente à tela pode causar uma contratura desse músculo e ao olhar de longe pode demorar mais para se obter uma imagem nítida”, explica o oftalmologista.

Uma segunda consequência do excesso de tela é a falta de lubrificação. Em condições normais, as pessoas piscam 15 vezes por minuto,mas quando estamos na frente da tela isso reduz para três ou quatro vezes. Isso produz vermelhidão nos olhos devido à secura da superfície ocular. "O olho seco pode causar visão turva, queimação e olhos vermelhos e pode ser mais grave quando o paciente tem histórico de doenças sistemáticas, como artrite reumatóide, uso de medicamentos como antialérgicos ou presença de ambiente mais seco.

O problema, claro, é que somos seres de hábitos fáceis e algo que nos incomoda e chama a nossa atenção um dia, no dia seguinte faz parte da nossa vida. O presidente da Sochiof recomenda estar atentos aos sintomas associados ao uso excesivo de telas, que são transtornos de foco, visão embaçada, cefaleia, olho vermelho, sensação de peso, fadiga ocular, ardência, sensação arenosa nos olhos e fotofobia ou incômodo com a luz. Se esses desconfortos persistirem, a recomendação é consultar um oftalmologista.

Dicas para trabalhar na frente da tela:

1. Siga a regra 20/20/2.
2. Aumente a taxa de intermitência e use lágrimas artificiais (1 gota 3 a 4 vezes ao dia).
3. Fique em uma posição confortável em frente à tela, com o braço estendido e com o limite superior da tela na altura dos olhos.
4. Ajuste o brilho e o contraste da tela, evitando brilho excessivo.
5. Trabalhe em uma sala com boa iluminação, idealmente luz natural e evitando o reflexo na tela.
6. Evite usar telas uma ou duas horas antes de deitar.
7. Se você tiver algum defeito refrativo ou dificuldade de leitura, consulte seu oftalmologista para avaliar a necessidade do uso de óculos.

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